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Património Natural

  Seguindo a tendência nacional da substituição da flora indígena por povoamentos silvícolas de espécies exóticas, como o Eucalipto (Eucalyptus globulus), e por pinhal (Pinus pinaster), o Concelho de Pedrógão Grande assistiu nos últimos anos à descaracterização do seu rico e diverso Património Vegetal. No entanto, é ainda possível observar troços em bom estado de conservação onde surgem espécies emblemáticas que reflectem a diversidade edafo-climática e orográfica desta região. Formações vegetais tão diversas como bosques de sobreiros (Quercus suber) e castinçais (Castanea sativa) continuam a ocupar encostas escarpadas desta região. Outras associações florísticas autóctones de extrema beleza cénica são os matorrais de pequenos arbustos como o rosmaninho (Lavandula sp.), o tojo (Ulex europaeus), a urze-vermelha (Erica australis), a urze-branca (Erica arborea), a giesta (Cytisus scoparius) salpicados por medronheiros (Arbutus unedo) cujos frutos emprestam o seu colorido para avivar a paisagem durante o Outono. Denunciando a proximidade de água em altitude é possível ainda encontrar azereiros (Prunus lusitanica), uma espécie reliquial da flora característica do Período Terciário, cuja presença testemunha tempos idos de clima bem mais húmido e ameno e se torna, nas actuais condições, cada vez mais rara.

 

 

  As ribeiras do concelho, esculpidas pela água em leitos de pedra, constituem um bom exemplo da compatibilidade do uso humano com a protecção das comunidades ripícolas que as marginam. Num convívio afável, canais de água construídos para alimentar os moinhos, açudes artesanais e antigos muros de sustentação de terrenos agrícolas, possibilitam a manutenção e desenvolvimento da vegetação característica destes sistemas. A serpentear a margem, surgem-nos, exuberantes, as comunidades de fetos dos quais se destacam o feto-real (Osmunda regalis) e o feto-fêmea (Athyrium filix-femina), sombreados por pilriteiros (Crataegus monogyna) de porte arbóreo, carvalhos-alvarinho (Quercus robur), amieiros (Alnus glutinosa), sanguinhos (Frangula alnus), sabugueiros (Sambucus nigra), num cenário ancestral que varia a cada estação do ano sem nunca perder o encanto.

 

  É neste “Sitio muito sadio, deleitavel à vista; aprazível e jocundissimo a todos os sentidos, pola fresquidão dos ares, sombras, rios e rochedos; pola suavidade do cheiro das flores, e entre elas o sussurro das abelhas; pola melodia e harmonia da musica continua dos passarinhos, da saudosa melroa, do ruysinol, com aquelle tão suave e namorado assobia e queixas, o chocalheiro e nunca calado pintisirgo, e de outros milhares, o pombo trocaz, a rola, que todas quasi nas janellas das cellas dos religiosos fazem suas ordinárias musicas” (in Miscellanea, 1993).

 

  Este cenário de contos de fada proporciona habitat a várias espécies de animais. As ribeiras, e a sua zona envolvente de vegetação frondosa, acolhem diversas espécies de anfíbios, os quais dividem a sua vida entre o ambiente terrestre e o aquático, mas sempre dependentes das zonas húmidas que lhes garantem os níveis de humidade necessários. Dentro desta classe de vertebrados, facilmente encontramos a Salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra), a qual possui uma poderosa arma de defesa contra eventuais predadores através da produção e libertação de uma secreção venenosa produzida nas suas glândulas dorsais. Este ambiente particular é igualmente frequentado pela delicada salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), anfíbio esguio de dorso dourado, única espécie do género Chioglossa que ocorre somente na zona noroeste da Península Ibérica. No território nacional apresenta o estatuto de vulnerável à extinção na natureza, por este motivo, a sua presença neste concelho constitui um tesouro a reconhecer e implica uma responsabilidade acrescida para a conservação do seu habitat de forma a garantir a protecção da própria espécie.  Também a rã-ibérica (Rana ibérica), outro endemismo do Noroeste da Península Ibérica, que pode ser observada com relativa facilidade nestas zonas húmidas no concelho de Pedrógão Grande junto a ribeiros de águas límpidas.

 

  Também atraída pela qualidade da água, pela protecção que a vegetação ribeirinha lhe proporciona e pela abundância de presas alimentares existentes, nestes habitats ribeirinhos ocorre a lontra (Lutra lutra). Mamífero com actividade essencialmente crepuscular e muito ágil na água, atributo que lhe permite explorar muito bem o meio aquático em busca de peixe, crustáceos e anfíbios podendo também capturar esporadicamente aves aquáticas e pequenos mamíferos. Apresentando um aspecto gracioso, e com um comportamento activo que por vezes parece tomar contornos de brincadeira, atrai com frequência a atenção das pessoas que têm a sorte de o poder abservar.

 

  A presença de espécies da fauna classificadas como espécies de interesse a nível da Europa como a salamandra-lusitânica, a rã-ibérica e ainda a  lontra, são elementos reveladores da qualidade do património natural que o concelho de Pedrógão Grande detém e constitui motivo de atracção para os visitantes. No entanto, sendo espécies para as quais é exigida uma protecção rigorosa, e estando dependentes do estado de conservação do ecossistema aquático, motivam neste domínio uma responsabilidade acrescida à sua protecção.

 

  Percorrendo os cursos de água observa-se uma grande diversidade de aves ribeirinhas, que enriquecem este ecossistema: - Adejando por entre a luxuriante vegetação, com uma cor azul metálico, destaca-se a silhueta inconfundível do guarda-rios (Alcedo atthis) que passa a uma velocidade vertiginosa. - Pousado numa rocha, mesmo ao centro do curso de água, está o melro-d’água (Cinclus cinclus) enquanto não mergulha para capturar algum invertebrado que lhe sirva de alimento. Com grande agilidade, e auxiliado por movimentos rápidos das asas, dirige-se até ao fundo do curso de água sobre o qual chega mesmo caminhar. - Imponente, e dissimulada por entre as tábuas está a garça-real (Ardea cinérea), de longas patas e pescoço comprido, plumagem com diversos tons cinzentos, é uma ave muito elegante que se alimenta de insectos, ratos, anfíbios, crustáceos e peixes, e que à sua disposição tem “… gabadas truitas…”...“e os barbos, e daqellas delicadas e saborosas bogas, que n’outras partes prestão, e as d’aqui por se criarem em pedra, tem competência com as mesmas truitas, ao menos as que chamão geivãs.” … “desenfastiados bordallos, ditos assim por se criarem nas ribeiras, cujas ovas são tamanho como elles mesmo. Aqui a enguia e eiró gordos e de bom sabor…”.

 

  Nas zonas de transição entre o terrestre e o aquático, nos tradicionais lameiros, fazem o seu tratamento de beleza os robustos javalis (Sus scrofa), escolhendo de seguida a floresta para se refugiar.

 

  A floresta, ecossistema cheio de mística, durante o dia é explorada por várias espécies de passerifores: pardais (Passer spp.), chapins (Parus spp.), pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), toutinegra (Sylvia spp.), rouxinol (Acrocephalus spp.), pintassilgos (Carduelis spp.), alvéolas (Motacilla spp.), carriças (Troglodytes troglodytes) e muitas outras espécies que compõem magnificas e relaxantes melodias. Por entre a vegetação escondem-se muitos mamíferos, com destaque para a raposa (Vulpes vulpes), a geneta (Genetta genetta), o gato-bravo (Felis silvestris), o toirão (Mustela putorius), e a doninha (Mustela nivalis), todas estas caçadoras andam em busca de algum coelho (Oryctolagus cuniculus), ou lebre (Lepus granatensis) que fazem das tocas no solo o seu refúgio.